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Elevador da Biblioteca, o primeiro elevador público vertical ao ar livre de Lisboa

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12 jan 2021

Sabia que Lisboa inaugurou o primeiro elevador público vertical ao ar livre há precisamente 124 anos? Chamava-se Elevador da Biblioteca, do qual não resta qualquer memória na cidade atual, mas que o Museu de Lisboa hoje resgata ao esquecimento.

Esta fotografia, do nosso acervo, da autoria do fotógrafo madeirense João Francisco Camacho (1833-1898), estabelecido em estúdio próprio na vizinha Rua Nova do Almada, retrata o elevador pouco depois da sua inauguração, uma vez que Camacho morreu a 8 de novembro de 1898.

Inaugurado a 12 de janeiro de 1897, o Elevador da Biblioteca (também conhecido por Elevador de São Julião, ou Elevador do Município) foi o primeiro elevador público vertical ao ar livre de Lisboa, constituindo assim um primeiro ensaio para o famoso Elevador de Santa Justa, construído pouco depois e inaugurado em 1901. Até essa data, só existia um elevador público vertical – o do Chiado, inaugurado em 1892 –, mas estava incluído dentro de um prédio. O seu projeto foi da autoria do engenheiro Raul Mesnier de Ponsard (1849-1914), mas o financiamento e a exploração ficaram a cargo de Ayres de Campos, então Conde do Ameal, à frente da Empresa do Ascensor Município-Bibliotheca.

Ao contrário dos ascensores do Lavra, da Glória, da Bica ou da Graça, sistematicamente em plano inclinado e aproveitando carros elétricos sobre carris - chamados por isso ascensores e não propriamente elevadores, embora, na época, os termos fossem indistintamente utilizados -, o Elevador da Biblioteca era integralmente vertical e fazia uso de duas torres paralelas, unidas no topo por uma plataforma gradeada, da qual se obtinha uma panorâmica deslumbrante sobre parte dos telhados da Baixa Pombalina.

A rapidez com que foi construído, ao abrigo de uma moda de mobilidade urbana que pretendia tornar mais cómodo o acesso entre várias áreas desniveladas da cidade, levou até a que fossem canalizados para a empreitada espaços particulares. No Largo de São Julião, para se aceder ao equipamento, era preciso entrar numa casa privada (n.º 13); e o mesmo acontecia no topo, ao chegar ao Largo da Academia Nacional de Belas Artes, onde era necessário passar pelo terraço do Palácio do Visconde de Coruche (também n.º 13).

A 28 de janeiro de 1908, o elevador foi palco de uma intentona republicana comandada por Afonso Costa (1871-1937). A estratégia passava por eliminar João Franco (1855-1929), presidente do conselho de ministros que, ao tempo, governava na prática em ditadura. O equipamento era um ponto militar que se impunha controlar, mas o golpe estava condenado a falhar graças ao pré-aviso das forças governamentais, acabando os revoltosos por dispersar.

Doado à Câmara Municipal de Lisboa em 1915, o elevador acabou por ser desmantelado após 1926, num processo administrativo que teve duas hastas públicas. Em 1915, já os materiais se encontravam bastante oxidados e requeriam intervenção urgente. Mais de dez anos depois, a opção foi o seu total desmantelamento, não sem críticas na imprensa periódica, e, a seu tempo, a perda de memória na cidade atual, no exato local onde este equipamento existiu.

«Ascenseur public - "Pelourinho - Biblioteque"»
Francisco Camacho (1833-1898)
1898
Papel fotográfico sobre cartão
Muse de Lisboa - MC.FOT.1908

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MC.FOT.1908Ac.jpg

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