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Quadro do Museu de Lisboa integra projeto europeu

25 mar 2022

Terreiro do Paço no séc. XVII, do pintor holandês Dirk Stoop (1610-1686), do acervo do Museu de Lisboa, é uma das 15 obras que integram a exposição virtual Art-es Da vida real para o mundo da arte, projeto que junta investigadores internacionais na análise das relações entre as artes visuais e performativas no contexto europeu, entre os séculos XVI e XVIII.

O quadro, que se encontra nas reservas do Museu de Lisboa enquanto decorrem as obras de renovação do primeiro piso do Palácio Pimenta, pode assim continuar a ser visto pelo público nesta exposição virtual que, através de uma combinação de ferramentas audiovisuais abre várias janelas de leitura sobre a obra.

Para esta representação de uma praça real num dia agitado no século XVII, a historiadora Susana Varela Flor criou um guião em que o autor, o local onde a história se passa, a arquitetura representada, os principais episódios, os vários retratos e os pormenores da vida quotidiana são analisados e explicados à luz do contexto da época e da informação documental disponível.

Convidada a participar no projeto Art-es, Susana Varela Flor, do Instituto de História de Arte da Nova/FCSH, propôs a pintura realizada pelo pintor holandês em 1662, obra sobre a qual já tinha investigação científica no âmbito da sua tese de doutoramento dedicada à iconografia de D. Catarina de Bragança e por, embora de forma indireta, se relacionar com as artes performativas. «O Paço da Ribeira e a colina de São Francisco funcionam como a cenografia e o Terreiro do Paço como palco da narrativa que alguém quer contar», explica a historiadora. 

A narrativa «é a história de uma infanta que se tornou rainha», refere a primeira frase de apresentação do quadro nesta exposição virtual, refletindo a aposta do projeto em chegar a um público alargado através dos recursos digitais interativos e pela utilização de uma linguagem simples.

Mas o enredo adensa-se com vários episódios a serem retratados neste quadro do artista holandês, que veio para Portugal como pintor da Casa da Rainha D. Catarina de Bragança, e que vão muito além do quotidiano nesta emblemática praça de Lisboa, com as guerras dos aguadeiros junto ao chafariz de Apolo e a presença de tendeiros.

É o caso da representação de D. Catarina – com a sua mãe e uma freira, que passeiam no Terreiro do Paço –, o embarque do seu dote antes da sua partida para Inglaterra para se casar com Carlos II e ainda a entrada de um embaixador, presumivelmente Francisco de Mello e Torres, representante da coroa portuguesa nas negociações que terminaram com o acordo de casamento entre D. Catarina e o monarca inglês. «A primeira vitória diplomática portuguesa face a Espanha», salienta a historiadora, após o período em que Portugal esteve sob domínio filipino.

O quadro conjuga, assim, o potencial iconográfico do momento da vida quotidiana de Lisboa na segunda metade do século XVII e uma mensagem política, de afirmação de Lisboa como capital de Portugal independente. 

Este projeto de investigação e desenvolvimento, é uma iniciativa do Ministério da Economia e Competitividade do Governo espanhol coordenado por Carmen González-Román, da Universidade de Málaga em parceria com o Kunsthistoriches Museum. Foi, aliás, o departamento de comunicação do Kunsthistoriches Museum que desenvolveu o design desta visita virtual ao quadro de Dirk Stoop, um projeto cofinanciado pelo Museu de Lisboa.

2 Terreiro do Paço no Seculo XVII Museu de Lisboa.jpg

© Museu de Lisboa